Duas estratégias de comercialização tem criado novas cadeias de escoamento que valorizam os frutos e o bioma Cerrado no Distrito Federal. Através delas, agricultores e consumidores estão tendo acesso à diversidade e emancipação alimentar. São duas formas de economia colaborativa, diferentes, mas que se completam: a CSA, sigla que significa Comunidade que Sustenta a Agricultura, e o Cooperativismo.
Esta série apresenta um panorama da comercialização dos frutos do Cerrado no Distrito Federal a partir de perspectivas da economia colaborativa representadas pelo cooperativismo e pelas Comunidades que Sustentam a Agricultura. Essas são redes alternativas que se consolidam principalmente devido à suas características de filosofia voltadas ao respeito ao tempo da natureza.
Dimensões do Cerrado no Brasil. Fonte: IBGE
O Cerrado, em tamanho, é o segundo maior bioma do Brasil. Mais de 20% do território brasileiro é coberto por essa vegetação, que está presente em onze estados como Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e Bahia. De tão abundante em espécies animais e vegetais, o Cerrado é considerado oficialmente como a savana mais rica do mundo.
Infelizmente, todo esse potencial vem sendo destruído. Pesquisas do IBGE de 2010 apontam que mais de 40% do Cerrado já foi ao chão. Quanto aos animais mortos, é impossível calcular exatamente quantos. Mas de espécies em extinção, o Ibama aponta que o Cerrado tenha mais de 100.
O agronegócio não deixa nada de pé. Para plantar soja e abrir pastagens, tudo que há de original e tradicional é retirado do caminho. Fala-se muito do desmatamento na Amazônia, mas em números, o Cerrado sofre mais. Bióloga e especialista em ecologia pela Universidade de Brasília, a professora Isabel Belloni alerta para esse perigo:
“O desmatamento do Cerrado é entre quatro e seis vezes mais rápido que o da Amazônia. E o mundo inteiro fica olhando para a Amazônia, enquanto isso a gente tá perdendo o Cerrado numa taxa pelo menos cinco vezes maior”.
Kisêdjê: um povo ameaçado pelo agronegócio
Os Kisêdjê são um povo indígena da família linguística Jê que atualmente habitam o Parque Indígena do Xingu, mais precisamente nas regiões conhecidas como Alto Xingu.
Recentemente, parte dos Kisêdjê teve que se mudar. Uma aldeia, situada mais à borda da reserva em que se encontram, foi atingida de forma direta pelo avanço do agronegócio. Grandes plantações e o uso de agrotóxicos pulverizados pelas lavouras relativamente próximas à aldeia deixou alguns dos indígenas doentes.
Alarmados pela situação, os Kisêdjê decidiram se mudar. Na nova aldeia, estão reconstruindo suas roças e habitações. Nesse processo, as ativistas do movimento Slow Food Cerrado Ana Paula Boquadi, Eliane Régis e Tainá Zaneti passaram alguns dias com os indígenas ministrando cursos de ecogastronomia, para aprender com eles, e ensinar novas formas de consumir e se relacionar com os frutos do Cerrado.
Ana Paula Boquadi, chef de cozinha, também reforça a importância de respeitar os saberes tradicionais representados por esses povos, e ressalta uma curiosidade: ninguém quebra a castanha de baru como os Kisêdjê, donos de uma tecnologia impressionante.
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